Em um mundo em que as telas piscam a cada segundo e a pressa dita o ritmo, talvez o maior presente que possamos dar a uma criança seja o mais simples: tempo. Tempo para brincar, inventar, explorar, rir e conviver. O luxo da infância não cabe em um aplicativo; ele está nos momentos reais, cheios de afeto, que despertam curiosidade e se transformam em memórias para sempre.
O café da manhã, por exemplo, pode ser muito mais do que uma refeição apressada. Quando a criança ajuda a arrumar a mesa, cortar uma fruta ou misturar a massa de um bolo, sente que pertence, que faz parte. E é nesse instante que se constroem lembranças sensoriais inesquecíveis: o cheiro do café fresco espalhando-se pela cozinha, o barulhinho do pão sendo cortado, o gosto doce da goiaba colhida no quintal, a textura macia da massa grudando nos dedinhos. Memórias simples, mas gravadas no coração.

Participar das pequenas rotinas desperta pertencimento e cria lembranças afetivas (Foto: Envato)
A arte também guarda essa força. Um lápis de cor pode levar a criança a criar universos inteiros. Cada rabisco é descoberta, cada cor revela identidade. E, no meio disso tudo, ecoam o som dos risos, o arrastar dos lápis sobre o papel, o silêncio concentrado que se transforma em orgulho quando o desenho ganha vida. É ali que ela aprende paciência, autoestima e liberdade — algo que nenhuma tela pode oferecer.
E a natureza? Nossa mestra mais generosa. O cheiro da terra molhada depois da chuva, o canto dos pássaros disputando espaço nas árvores, a sensação da grama fria nos pés, o vento bagunçando os cabelos, o gosto azedinho da acerola colhida direto do pé. Cada detalhe ensina respeito, curiosidade e encantamento. Muitas vezes, é nesse cenário que sentimos a presença de Deus: no abraço apertado, na oração antes de dormir, no pôr do sol que colore a tarde em tons de laranja e rosa.
A verdade é que as telas estão aí e, em pequenas doses, podem até ser aproveitadas. Mas nada substitui a imaginação livre, o brincar espontâneo e o afeto compartilhado. Quanto menos espaço elas ocuparem, mais viva será a infância — e mais fortes os laços entre família e amigos.

O brincar espontâneo fortalece laços e dá vida às memórias da infância (Foto: Envato)
O luxo da infância está nesses detalhes: a pintura torta pendurada na geladeira, a cabana de lençóis, a gargalhada ecoando pelo quintal, o chiado da panela de pressão na cozinha, o cheiro do bolo crescendo no forno. Neste Dia das Crianças, a maior homenagem talvez seja ir além dos presentes comprados: oferecer experiências, presença e atenção. Porque são esses instantes — de cheiro, sabor, som e toque — que ficam guardados para sempre.
No fim das contas, a verdadeira riqueza não se mede em coisas, mas no tempo dedicado, no cuidado oferecido e no afeto partilhado. Que cada gesto de amor, cada brincadeira e cada descoberta se transforme em um tesouro eterno no coração da criança.


