Toda empresa nasce de uma ideia, de um propósito, de uma paixão ou ainda de uma necessidade e, por trás de todo idealismo e motivação, está o empreendedor. A disciplina Empreendedorismo nas faculdades se inicia tratando dessa força motriz que as pessoas carregam para abrir um negócio.
Em seguida, vêm as explicações técnicas que envolvem formalizar a ideia em um projeto, o que necessariamente exige visão de mercado, investimento, conhecimento em marketing, gestão financeira, contabilidade, além de saber lidar com questões fiscais, burocráticas e jurídicas, licenças e regras de uso de marca, sem esquecer que, para qualquer empresa funcionar, é preciso ter pessoas, gerir equipe, parceiros, fornecedores, atender clientes e inovar.
Nesse momento, a determinação e a resiliência se tornam condições mínimas para seguir adiante com o propósito posto. O que parece simples ao idealizar, na prática exige um nível de conhecimento assertivo e atualizado, capital de giro e, principalmente, capital humano para fazer acontecer.
Fabiana Carvalho, proprietária da Acquarela Esmalteria, em Uberlândia (MG), aposta na inovação com o modelo de assinatura para cuidados de beleza (Foto: Divulgação)
São exemplos como esse o da Fabiana Carvalho, proprietária da Acquarela Esmalteria, em Uberlândia (MG), cujo conhecimento trazido de grandes empresas de gestão administrativa a auxiliou nos controles de caixa, escrita de processos e assertividade em marketing. Fabiana aposta na inovação ao ser a primeira esmalteria do Triângulo Mineiro por assinatura, com uso ilimitado para manicure, pedicure e sobrancelhas. Sendo um serviço que depende completamente de mão de obra especializada, ela traz esse ponto como o maior desafio em empreender.
Outro exemplo vem do empresário da área de chocolates, Pedro Caetano Magalhães, proprietário da Var Chocolates, baseada em Ibirataia, no sul da Bahia, que encontrou na especialização em chocolates gourmet uma forma de expansão e valorização do seu produto principal: o cacau, produzido e manufaturado para se tornar chocolate. A posição dele, que vai de encontro à de Fabiana Carvalho, é que a escassez de mão de obra, por diversos motivos, mas principalmente pelos programas assistencialistas do governo federal, dificulta encontrar quem prefira deixar de receber sem trabalhar para cumprir uma jornada de trabalho.
Pedro Caetano Magalhães, fundador da Var Chocolates, transforma o cacau baiano em chocolates premiados pela Academy of Chocolate, em Londres (Foto: Divulgação)
Pedro também faz alusão às dificuldades de acesso ao mercado consumidor, visto que o setor do chocolate é dominado por oligopólios, e complementa com o custo do dinheiro, que inviabiliza qualquer tentativa de expansão, por ser muito alto. O mercado do chocolate é um nicho que concorre com produtos de baixa qualidade das grandes marcas, inferiores aos produzidos pela Var, o que derruba os preços por conta da concorrência.
Mesmo com todas essas dificuldades, três dos chocolates da Var foram premiados pela Academy of Chocolate, em Londres:
- 52% cacau ao leite com nibs (2019 e 2020)
- 45% cacau ao leite com sapucaia (2023)
- 70% cacau com cupuaçu (2023)
Chocolates artesanais da Var, produzidos com cacau cultivado no sul da Bahia e reconhecidos internacionalmente pela qualidade e sabor (Foto: Divulgação)
Mas aí está o diferencial do empreendedor: ele não desiste. Mesmo precisando superar o mercado, a falta de mão de obra (especializada ou não) e a ausência de incentivo financeiro e, diga-se de passagem, não se deseja dinheiro dado, mas crédito com custo possível de ser pago com o resultado do próprio trabalho, essas pessoas são movidas e motivadas por algo muito maior: o propósito, o amor pelo projeto e pela visão de longo prazo.
E aí estão as dores e os amores de se manter no mercado de forma consistente, enfrentando todos os tipos de dificuldades possíveis e inimagináveis.