Comportamento

Entre a balança e o espelho: saúde como centro da conversa

Por
Marta Castro Luzbel

12/7/2025

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O caminho do equilíbrio passa pelo autoconhecimento (Foto: AdobeStock)

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Entre padrões, dietas e discursos de autoaceitação, a verdadeira pauta deve ser o cuidado com a saúde física e emocional das mulheres

Durante séculos, o corpo feminino foi palco de disputas silenciosas e ruidosas. Houve um tempo em que gordura era sinônimo de saúde e prosperidade. Mais recentemente, vivemos a ditadura da magreza, como se só nela habitasse a beleza. Na contramão, surgiram movimentos corajosos de autoaceitação e combate à gordofobia, que nos lembram que corpos arredondados também podem ser expressão de liberdade, autoestima e estilo. Esse movimento foi, e ainda é, essencial: ensina que ninguém deve ser reduzido a um número na balança.

Mas a reflexão que proponho vai além dos padrões de época. Quando falamos de corpo, precisamos falar de saúde. Assim como a magreza extrema, fruto de transtornos como anorexia e bulimia, exige cuidado e tratamento, a obesidade severa, muitas vezes associada à compulsão alimentar, também precisa ser vista como questão de saúde. Não se trata de falta de força de vontade, mas de condições complexas, atravessadas por fatores genéticos, hormonais, psicológicos e sociais.

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O desafio é encontrar o próprio corpo com leveza e afeto (Foto: Adobe Stock)

Sou a prova viva disso. Na adolescência, fazia ballet clássico e passava fome a ponto de desmaiar. Por muitas vezes, ao exceder na comilança, forcei o vômito. Mas, naquele tempo, não se falava nesse assunto e, para ser bem sincera, acho que ninguém notava ou se preocupava com isso. Anos depois, algumas vezes, como no intercâmbio que fiz no exterior, durante a gravidez e, mais recentemente, na chegada da menopausa, eu ganhei peso. Já fui obesa grau 2. Estaria mentindo se dissesse que não ligo para estética. Foi ela que me fez emagrecer, ainda que de maneira errada, nas duas primeiras situações. Agora, na menopausa, o que me motivou foi ver como o envelhecimento de meus pais está sendo difícil por conta do sobrepeso e de comorbidades como diabetes, hipertensão e hipercolesterolemia.

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O corpo pede cuidado e não rótulos (Foto: AdobeStock)

Questão de saúde

Transtornos alimentares são doenças e, como toda doença, exigem acolhimento e tratamento adequado. É perigoso reduzi-los à estética ou à preguiça. A cantora Jojo Todynho, por exemplo, sempre foi símbolo de autoestima e liberdade, mas recorreu à cirurgia bariátrica por questões de saúde. Seu gesto não diminui a luta contra a gordofobia, ao contrário, mostra que amor-próprio também é buscar ajuda quando o corpo pede.

Além dos diagnósticos mais conhecidos, há novos distúrbios que refletem os tempos atuais. A ortorexia, marcada pela obsessão por uma alimentação “perfeita”, e a vigorexia, caracterizada pelo culto excessivo à musculatura, revelam que não é apenas o peso que adoece, mas a forma como nos relacionamos com a comida, com o espelho e com a própria identidade.

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Cada fase da vida traz um novo olhar sobre o corpo e o envelhecimento (Foto: Envato)

Falar sobre isso não é levantar bandeiras contra a autoestima. É lembrar que cuidar de si inclui escutar o corpo em todas as suas dimensões: biológica, emocional, social e espiritual. A saúde não pode ser sequestrada por ditaduras estéticas, sejam elas da magreza, da gordura ou mesmo da perfeição. Que possamos, como mulheres, olhar para nossos corpos com ternura, sem vergonha de buscar apoio quando necessário.