Você segue a dieta, treina com disciplina, vê os números da balança cair mas, ainda assim, braços, pernas e quadris continuam inchados, doloridos, com acúmulo de gordura que não desaparece. Em muitos casos, a explicação para esse desconforto estético e físico não está na alimentação, mas em um diagnóstico ainda pouco difundido: lipedema.
Trata-se de uma doença crônica que atinge majoritariamente mulheres, com forte componente genético e inflamatório. Apesar da sua alta prevalência, o lipedema ainda é frequentemente confundido com sobrepeso, obesidade ou até mesmo “falta de esforço”. A consequência? Milhões de mulheres passam anos lutando contra o próprio corpo sem saber que estão enfrentando um problema de saúde e não de força de vontade.

A resistência à perda de gordura em certas regiões do corpo pode indicar lipedema, uma doença ainda pouco diagnosticada no Brasil (Foto: Envato)
O que é lipedema e por que ele resiste à dieta
“O lipedema não é excesso de gordura causado por má alimentação. É um distúrbio no tecido adiposo, que provoca acúmulo desproporcional de gordura, principalmente em membros inferiores e superiores, com sintomas como dor, inchaço e tendência a hematomas”, explica o médico nutrólogo Arthur Victor de Carvalho, especialista em menopausa, lipedema e modulação hormonal.
Esse tipo de gordura tem uma estrutura diferente: é mais fibrosa, rígida e resistente à quebra metabólica. Por isso, não responde ao déficit calórico como as outras áreas do corpo. Além disso, o lipedema está associado a um quadro inflamatório crônico que agrava a sensibilidade e a progressão da condição ao longo do tempo.
A culpa que não é sua
Uma das maiores armadilhas do lipedema é o julgamento precoce. Desde a adolescência, muitas mulheres escutam que têm “pernas grossas” ou “corpo desproporcional”. Com o passar dos anos, mesmo com alimentação equilibrada e rotina de treinos, enfrentam frustração por não verem resultados proporcionais. “Muitas pacientes chegam ao consultório emocionalmente exaustas, com histórico de ansiedade, depressão e sentimento constante de inadequação”, afirma o especialista.
Essa pressão estética e emocional gera um ciclo de culpa injusto: o corpo não responde, a mulher se cobra mais, intensifica dietas e treinos, e piora os sintomas. O que falta, muitas vezes, é o diagnóstico correto.
Quando desconfiar de lipedema
Embora o diagnóstico definitivo deva ser feito por um especialista, há sinais que podem indicar a presença de lipedema:
- Gordura simétrica em pernas, quadris e braços, com tronco proporcionalmente menor;
- Dor ao toque e sensação de peso nas pernas;
- Facilidade em formar hematomas;
- Inchaço persistente e retenção mesmo com boa alimentação;
- Histórico familiar com características semelhantes.
Tratamento para qualidade de vida

Com diagnóstico e tratamento adequados, mulheres com lipedema podem recuperar conforto físico, mobilidade e autoestima (Foto: Envato)
Diferentemente da lipoaspiração estética tradicional, o tratamento do lipedema envolve protocolos específicos que visam controle da inflamação, melhora da mobilidade e alívio da dor. Pode incluir drenagem linfática, fortalecimento muscular supervisionado, modulação hormonal e, em casos avançados, cirurgia especializada.
“Não se trata apenas de afinar a silhueta. O foco é conter a progressão da doença, reduzir o sofrimento físico e resgatar a autoestima das pacientes”, explica o médico.
Reconhecer o lipedema como uma condição médica e não como falha pessoal é o primeiro passo para mudar a narrativa. “Não é sobre emagrecer. É sobre cuidar da saúde com o olhar certo. Quando tratamos a doença, os resultados vêm não só no espelho, mas na forma como a mulher se sente e vive”, diz o especialista.