Comportamento

“Transformei a dor em resistência”: mãe de Eliza Samudio fala sobre memória e superação

Por
Surama de Castro

10/18/2025

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Bruninho Samudio, de 15 anos, goleiro do Botafogo, foi convocado três vezes para a Seleção Brasileira Sub-15 em 2025 (Foto: Arquivo pessoal / Sônia Moura)

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Em entrevista à Aurora, conduzida por Surama de Castro, Sônia Moura relembra a filha, comenta a busca por justiça e fala sobre a relação com o neto Bruninho

O assassinato de Eliza Samudio, em 2010, marcou a história recente do Brasil como um dos crimes de maior repercussão nacional. O caso envolveu o então goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes, condenado em 2013 a 22 anos e três meses de prisão por homicídio triplamente qualificado, sequestro e ocultação de cadáver. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e a ausência dessa materialidade tornou ainda mais dolorosa a busca por justiça.

Mais de uma década depois, sua mãe, Sônia Moura, fala à Aurora não para recontar a violência, mas para recuperar a memória da filha e compartilhar sua própria trajetória de dor e resistência.

Sônia recorda Eliza com carinho: o sorriso, as gargalhadas, a maciez dos cabelos. Para ela, a filha deve ser lembrada pela coragem e pelo amor ao filho, Bruninho, valores que se tornaram seu legado. O processo de investigação e julgamento foi, segundo a mãe, um percurso marcado pela dor e pelo desgaste. “Mesmo com a condenação, não houve alívio nem fechamento. Ainda existe o sentimento de insatisfação”, desabafa. Para Sônia, a justiça falhou, e esse vazio amplificou ainda mais a perda.

A travessia do luto foi árdua, mas encontrou na família e nos amigos um suporte essencial. O esposo foi companheiro incansável, e a necessidade de cuidar do filho mais novo e de Bruninho a manteve em movimento. Com o tempo, também encontrou força em grupos de apoio a mulheres vítimas de violência, espaços de solidariedade e partilha que a ajudaram a transformar a dor em resistência. Hoje, a relação com o neto é um pilar fundamental em sua vida: “Eu cuido dele e ele de mim. Nossa relação é especial e única. Meu amor e cuidado por ele são incondicionais.”

As conquistas de Bruninho

Enquanto a memória de Eliza se mantém viva, Bruninho Samudio, hoje com 15 anos, começa a escrever sua própria história no futebol. Revelado pelo Athletico Paranaense em 2023 e transferido no mesmo ano para o Botafogo, já acumula conquistas expressivas, como o título da Rimini Cup, na Alemanha, e da Copa 2 de Julho, em Salvador. Convocado três vezes para a Seleção Brasileira Sub-15 em 2025, chega ao Campeonato Sul-Americano como goleiro titular da categoria.

Nas redes sociais, torcedores celebram cada vitória e relembram a memória da mãe, que também chegou a atuar como goleira de futsal na infância. A avó acompanha cada passo do neto com emoção redobrada. Em setembro deste ano, ao comentar a terceira convocação de Bruninho para a seleção, declarou: “Que emoção ver isso! É incrível ver você crescendo e se destacando no futebol. Estou muito orgulhosa de você. O caminho até aqui não foi fácil, mas cada obstáculo superado tornou a conquista ainda mais gratificante.”

Enquanto o neto trilha um futuro promissor, Bruno Fernandes tenta reconstituir sua vida após a prisão. Desde 2023, cumpre liberdade condicional. Durante o período em que esteve detido, chegou a ser anunciado por clubes como Montes Claros e Boa Esporte, mas sem trajetória significativa nos gramados. Atualmente, joga em torneios amadores no interior do Rio de Janeiro — em agosto deste ano foi campeão pelo Brejo FC, da cidade de São José de Ubá — e trabalha em uma loja de móveis em Rio das Ostras, onde também atua como entregador.

A história de Eliza Samudio permanece, portanto, entre dor, resistência e futuro. Sua memória vive no sorriso lembrado pela mãe e na força de Bruninho, que cresce sob os olhos atentos da avó. Mais do que uma vítima de violência, Eliza segue como símbolo de coragem e amor incondicional. E sua trajetória continua a inspirar.

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Sônia Moura, mãe de Eliza, transformou a dor em resistência e dedica sua vida ao cuidado do neto (Foto: Arquivo pessoal / Sônia Moura)