Comportamento

O milagre cotidiano de Santo Antônio

Por
Marta Castro Luzbel

6/6/2025

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Devoção que se fortalece no cotidiano, entre pedidos silenciosos, histórias de fé e agradecimentos que atravessam o tempo (Foto: Canva)

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Um relato de devoção que atravessa gerações, entre casamentos inesperados, socorro financeiro e a bênção contínua de Irmã Dulce

Ele não era um estranho, mas também não tínhamos muita intimidade. Minha mãe falava de Santo Antônio com tanto carinho que repetia sempre a mesma história — e eu nunca me cansava de ouvi-la. Formada em Nutrição, ela construiu sua carreira na Universidade Federal da Bahia (UFBA): graduou-se, fez mestrado, lecionou e se aposentou como diretora da Escola de Nutrição.

Naquela época, todas as estudantes eram mulheres jovens, ansiosas para encontrar um par. Para “ajudar” o processo, ergueram um pequeno altar ao santo na sede da escola, no bairro da Vitória, com uma delicada imagem de galalite acompanhada de uma folhinha. Todos os dias, uma professora mais velha — sem o “padrão” de beleza que a sociedade valoriza — deixava uma dama-da-noite aos pés do altar. Tanto capricho trouxe resultado: ela se casou.

Convencida de que o santinho já não teria mais força para realizar outras uniões, minha mãe o atirou pela janela, num terreno baldio, e colocou em seu lugar uma imagem maior. A partir dali, uma a uma, todas as colegas se casaram — inclusive ela, que brinca até hoje que foi a maior beneficiária de sua própria iniciativa.

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Santo Antônio, símbolo de fé, devoção popular e mestre da palavra, celebrado em imagens que atravessam séculos (Foto: Shutterstock)

Anos depois, quem me aproximou de Santo Antônio não foi minha mãe, mas minha irmã, por meio da devoção à Irmã Dulce. Nossa família frequentava a capela de Santo Antônio desde muito antes da canonização de Dulce, e ali batizamos minha filha, meu afilhado e uma sobrinha.

Durante onze anos, trabalhei com Dr. Norberto Odebrecht, que contava como, em momentos de aperto financeiro — tanto na empresa quanto nas Obras Sociais de Irmã Dulce — a religiosa garantia que os recursos chegariam. “Santo Antônio trará não só o dinheiro para as Obras Sociais, mas muitas outras bênçãos”, dizia ela.

Certa vez, ao apresentar um contabilista voluntário, Irmã Dulce explicou que não havia necessidade de formalidade: “Meu filho, nosso tesoureiro é Santo Antônio.” Foi com esse aval que, em minhas próprias angústias, recorri inúmeras vezes ao santo, sentada no banco daquela capela, entre lágrimas e súplicas.

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Glorioso Santontoim (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje, com a vida mais tranquila, mantenho na minha casa de praia a imagem que carinhosamente chamo de “Glorioso Santontoim”. Não preciso mais pedir por mim mesma — apenas agradeço, todos os dias, e peço que ele olhe por quem ainda precisa de suas graças, seja para unir corações ou abrir caminhos inesperados.