Cultura

Afonso Henriques: o rei que sonhou um país

Por
Tânia Rabêllo

7/22/2025

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Estátua de Dom Afonso Henriques na Fortaleza de São Jorge, em Lisboa, representa o primeiro rei de Portugal e sua importância na fundação do reino (Foto: adobe Stock)

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Da Batalha de São Mamede ao reconhecimento papal, como o fundador de Portugal transformou lutas internas em um reino independente

Após a criação do Reino de Portugal, Dom Afonso Henriques continuou sua trajetória notável, consolidando a independência e expandindo o território do jovem reino. Seu legado é repleto de eventos marcantes que ainda ressoam na identidade nacional portuguesa.

Tratado de Zamora: o início da independência

Em 1143, Dom Afonso Henriques e o rei Afonso VII de Leão e Castela assinaram o histórico Tratado de Zamora. Este acordo é frequentemente considerado o ponto de partida para o reconhecimento da independência portuguesa. Embora Afonso Henriques ainda se intitulasse “Príncipe” (Infante) de Portugal, o tratado representou um avanço significativo na legitimação do novo reino. Esse momento marcou o início da autonomia política de Portugal em relação a Leão e Castela, estabelecendo as bases para futuras afirmações de soberania.

Reconhecimento papal: legitimação perante a cristandade

O reconhecimento papal, em 1179, foi um dos marcos mais importantes do reinado de Dom Afonso Henriques. A bula Manifestis Probatum, emitida pelo Papa Alexandre III, reconheceu oficialmente Afonso Henriques como rei de Portugal. Esse reconhecimento não apenas consolidou a posição do novo reino perante a cristandade, como também garantiu a autoridade de Afonso Henriques, permitindo-lhe governar com maior legitimidade e apoio internacional.

Conquista de Santarém e Lisboa: expansão e segurança

Em 1147, Dom Afonso Henriques empreendeu uma das campanhas mais significativas de seu reinado, conquistando Santarém e Lisboa dos mouros. Com a ajuda de cruzados a caminho da Terra Santa, essas vitórias foram cruciais para a expansão territorial de Portugal. A conquista de Lisboa, em particular, foi um marco estratégico que ajudou a consolidar o controle cristão sobre uma região vital para o comércio e a segurança do reino.

Campanhas militares no sul: avanços no Alentejo

Determinado a expandir ainda mais os domínios de Portugal, Afonso Henriques continuou suas campanhas militares ao sul. Conquistou várias cidades importantes, incluindo Évora e Beja, então fortalezas mouras no Alentejo. Essas campanhas não só ampliaram o território português, como também reforçaram a segurança contra incursões inimigas, garantindo a estabilidade e a prosperidade do reino.

Fundação de cidades e mosteiros: desenvolvimento e estabilidade

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Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde está sepultado Dom Afonso Henriques (Foto: Adobe Stock)

Afonso Henriques também foi um promotor ativo do desenvolvimento interno de Portugal. Incentivou a fundação de cidades e mosteiros, como o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde mais tarde seria sepultado. Essas fundações não apenas ajudaram a consolidar o controle sobre o território, como também promoveram o desenvolvimento econômico e social, criando centros de cultura, fé e administração que fortaleceram a estrutura do novo reino.

Alianças e casamento: fortalecimento internacional

Em 1146, Afonso Henriques casou-se com Mafalda de Saboia, filha de Amadeu III de Saboia. O casamento foi uma aliança estratégica que fortaleceu os laços internacionais de Portugal e solidificou a posição política de Afonso Henriques. As alianças matrimoniais eram uma tática comum na época para garantir apoio e estabilidade, e esta união ajudou a projetar Portugal no cenário europeu como um reino independente e respeitado.

A Fundação de Portugal: Guimarães e o nascimento de uma nação

A relação de Dom Afonso Henriques com Guimarães é intrinsecamente ligada ao nascimento de Portugal. Guimarães, muitas vezes chamada de “berço da nação”, foi o local onde Afonso Henriques iniciou sua jornada para a criação de um reino independente. A Batalha de São Mamede, ocorrida em 24 de junho de 1128, nos arredores da cidade, é frequentemente citada como o evento que marcou o início da autonomia portuguesa.

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Castelo de Guimarães, local simbólico do nascimento de Portugal (Foto: Adobe Stock)

Batalha de São Mamede: o primeiro passo para a independência

A Batalha de São Mamede foi um confronto decisivo entre Afonso Henriques e as forças lideradas por sua mãe, Dona Teresa, e o conde galego Fernão Peres de Trava. A vitória de Afonso Henriques consolidou seu poder sobre o Condado Portucalense e foi um passo essencial rumo à independência. Este episódio é visto como o ponto de partida para a futura criação do Reino de Portugal.

Dinastia de Borgonha: a herança de Afonso Henriques

Afonso Henriques fundou a dinastia de Borgonha, que governaria Portugal por mais de dois séculos. Seu filho, Sancho I, deu continuidade à obra de consolidação e expansão do reino. A dinastia trouxe estabilidade e continuidade ao jovem país, estabelecendo uma tradição de governança que perduraria até a crise de 1383–1385, quando a dinastia de Avis assumiu o poder.

Morte e legado duradouro

Dom Afonso Henriques faleceu em 6 de dezembro de 1185, deixando um legado que moldaria Portugal para sempre. Foi sepultado no Mosteiro de Santa Cruz, uma fundação que ele próprio havia promovido. Seu reinado é lembrado como um período de fundação e transformação, responsável por estabelecer as bases do que viria a ser uma nação próspera e influente.

O legado de um fundador

A vida e as realizações de Dom Afonso Henriques são fundamentais para a compreensão da história e da identidade de Portugal. Desde suas batalhas iniciais em Guimarães até suas conquistas no sul e o reconhecimento papal, Afonso Henriques demonstrou uma liderança visionária e um compromisso inabalável com a independência e o desenvolvimento do reino.

Revista Aurora celebra sua trajetória e convida os leitores a refletirem sobre a importância de sua contribuição. Que sua coragem e visão continuem a inspirar futuras gerações na busca por liberdade, justiça e prosperidade.

Para saber mais, recomendamos a leitura de Afonso Henriques: O Primeiro Rei de Portugal, de José Mattoso, e a consulta à Biblioteca Nacional de Portugal, onde estão preservadas preciosas fontes sobre a fundação do reino.