No frio do inverno, os cheiros da cozinha ganham outra dimensão. O vapor que escapa da panela, o barulho do caldo borbulhando, o aroma que se espalha pela casa, tudo isso compõe um cenário que vai além da refeição. Sopas e caldos são, no Brasil, parte de um ritual afetivo que transcende gerações. Comidas quentes, simples e reconfortantes, que muitas vezes carregam memórias de colo, cuidado e pertencimento.

Canja de galinha: mais do que um prato, um gesto de cuidado passado de geração em geração (Foto: Adobe Stock)
A canja de galinha, por exemplo, é mais do que um clássico da gripe. Para muita gente, é o prato da avó, do fim de tarde, da convalescença. Feita com arroz, frango desfiado, legumes e tempero caseiro, ela é quase um gesto de carinho em forma de comida. Há quem diga que seu efeito vai além do físico: é emocional.
Já o caldo verde, com batata, couve e linguiça, tem origens portuguesas, mas foi abraçado com entusiasmo por várias regiões do Brasil, especialmente nas festas juninas e noites frias. É um prato que reúne simplicidade e sabor intenso, servido com pão ou sozinho, como quem oferece uma pausa.

Entre a tradição portuguesa e a adaptação brasileira, o caldo verde virou presença nas noites frias (Foto: Adobe Stock)
E tem também a vaca atolada, receita típica do interior que mistura costela bovina com mandioca em cozimento lento. O nome divertido contrasta com a profundidade do sabor, um prato que exige tempo, mas entrega em troca um tipo de fartura que alimenta corpo e alma.
Essas receitas, muitas vezes transmitidas oralmente, carregam também os gestos: o jeito de cortar os ingredientes, a escolha da panela, o tempo de fogo baixo. São práticas que mantêm vivas tradições familiares e culturais. E, mesmo diante de novas dietas e estilos de vida, há sempre um espaço para essa cozinha de afeto.
No inverno, mais do que nunca, buscamos comida que acolhe. É como se o corpo pedisse calor, mas o coração pedisse lembrança. Um caldo no fim do dia pode não mudar o mundo, mas muda o jeito como atravessamos a noite.
Quer preparar em casa?
A gente separou duas receitas clássicas para você aquecer o corpo e a memória neste inverno:
Receita de canja de galinha
Ingredientes (serve 4 pessoas):
- 1 peito de frango com osso (ou coxa e sobrecoxa)
- 1 litro e meio de água
- 1 cebola picada
- 2 dentes de alho amassados
- 1 cenoura picada
- 1 batata picada
- ½ xícara de arroz cru
- 1 folha de louro
- Sal, pimenta-do-reino e cheiro-verde a gosto
Modo de preparo:
- Em uma panela grande, coloque o frango, a água, o louro e um pouco de sal. Cozinhe até o frango ficar macio.
- Retire o frango, desfie e reserve.
- Na mesma panela (com o caldo), refogue a cebola e o alho.
- Acrescente o arroz, a cenoura, a batata e o frango desfiado.
- Cozinhe em fogo médio até os legumes e o arroz ficarem macios.
- Acerte o sal e a pimenta. Finalize com cheiro-verde.
Sirva quente, de preferência com um pano de prato dobrado sobre as pernas.
Receita de vaca atolada
Ingredientes (serve 4 pessoas):
- 1 kg de costela bovina em pedaços
- 2 colheres (sopa) de óleo
- 1 cebola grande picada
- 2 dentes de alho amassados
- 2 tomates picados (ou 1 colher de extrato)
- 500 g de mandioca em pedaços
- 1 litro de água quente
- Sal, pimenta-do-reino e cheiro-verde a gosto
- Cominho ou páprica defumada (opcional)
Modo de preparo:
- Aqueça o óleo e doure bem os pedaços de costela. Reserve.
- Na mesma panela, refogue a cebola e o alho. Adicione o tomate e refogue até formar um molho.
- Volte a costela para a panela, cubra com a água quente e cozinhe em fogo baixo até a carne começar a soltar do osso (cerca de 1h30).
- Acrescente a mandioca e cozinhe até ela ficar macia e o caldo encorpar.
- Tempere a gosto. Finalize com cheiro-verde.
Sirva com arroz branco ou puro, com colherada generosa e tempo para saborear.