Cultura

D. Afonso Henriques e a ligação com a Ordem de Cristo e os Templários

Por
Tânia Rabêllo

7/26/2025

Article banner

O primeiro rei português consolidou alianças estratégicas com ordens militares como os Templários (Foto: Adobe Stock)

X logo

Aliança com os Templários fortaleceu o reino nascente e influenciou a expansão marítima portuguesa por meio da Ordem de Cristo

D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, teve uma ligação importante com a Ordem dos Templários, cuja influência foi crucial na formação da Ordem de Cristo. A Ordem dos Templários desempenhou um papel significativo no apoio militar e na construção do território português durante o período da Reconquista. Posteriormente, a Ordem de Cristo herdou a missão e os bens dos Templários, contribuindo para as grandes navegações e a expansão ultramarina portuguesa.

A Ordem dos Templários: fundação e missão

A ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, conhecida como Ordem dos Templários, foi fundada em 1119 por Hugues de Payens e um pequeno grupo de cavaleiros franceses. Sua missão inicial era proteger os peregrinos cristãos na Terra Santa após a Primeira Cruzada (1096–1099). A Ordem rapidamente cresceu em número e influência, recebendo doações de terras e riquezas em toda a Europa e Oriente Médio.

Apoio de D. Afonso Henriques

Post image

Construído em 1160, o castelo foi peça-chave na defesa do território durante a Reconquista cristã (Foto: Adobe Stock)

1. Concessões de terras
– Em reconhecimento ao apoio militar dos Templários, D. Afonso Henriques doou-lhes extensas terras. Em 1128, o castelo de Soure foi concedido aos Templários. Em 1159, ele confirmou a doação de terras em Tomar, onde os Templários estabeleceram sua sede em Portugal. Essas doações foram fundamentais para a consolidação do território português e a defesa contra as incursões muçulmanas.

2. Construção de fortalezas
– Os Templários foram responsáveis pela construção e fortificação de várias fortalezas ao longo da linha de fronteira. O castelo de Tomar, iniciado em 1160, tornou-se a sede da Ordem em Portugal e uma peça-chave na defesa da cristandade na Península Ibérica.

Dissolução da Ordem dos Templários: motivos

A Ordem dos Templários foi oficialmente dissolvida em 1312 pelo Papa Clemente V, sob pressão do rei Filipe IV da França. Vários fatores contribuíram para a sua dissolução:

1. Poder e riqueza
– Os Templários acumulavam grande poder e riqueza, possuindo vastas propriedades e recursos financeiros. Esse poder despertou a inveja e o temor de monarcas europeus, especialmente de Filipe IV.

2. Dívidas de Filipe IV
– O rei Filipe IV estava fortemente endividado com os Templários devido aos empréstimos que havia contraído para financiar suas guerras. Incapaz de pagar suas dívidas, Filipe IV viu a oportunidade de eliminar os Templários e confiscar seus bens.

3. Acusações de heresia
– Em 1307, Filipe IV ordenou a prisão em massa dos Templários na França, acusando-os de heresia, idolatria e outros crimes. Sob tortura, muitos Templários confessaram, embora a maioria dessas confissões tenha sido forçada. A pressão sobre o Papa Clemente V resultou na bula papal Vox in excelso, que dissolveu a Ordem em 1312.

4. Consequências da dissolução
– Os bens dos Templários foram transferidos para outras ordens militares, principalmente para a Ordem de Cristo em Portugal. Muitos dos cavaleiros foram absorvidos por essas novas ordens, continuando suas missões sob novas bandeiras.

Fundação da Ordem de Cristo: continuidade e adaptação

Post image

Símbolo presente nas velas das caravelas durante os Descobrimentos (Foto: Adobe Stock)

Após a dissolução da Ordem dos Templários, o rei D. Dinis de Portugal, neto de D. Afonso Henriques, negociou com o Papa João XXII a transferência dos bens dos Templários para uma nova ordem. A Ordem de Cristo foi formalmente estabelecida pelo Papa em 14 de março de 1319.

1. Missão e objetivos
– A Ordem de Cristo herdou a missão militar e espiritual dos Templários. Enquanto os Templários defendiam a cristandade na Terra Santa e na Península Ibérica, a Ordem de Cristo adaptou essa missão ao contexto da exploração marítima e expansão ultramarina. Sob a liderança do Infante D. Henrique, a Ordem financiou e apoiou as viagens que levaram à descoberta da costa africana e do caminho marítimo para a Índia.

2. Legado dos Templários
– A transição dos Templários para a Ordem de Cristo garantiu a continuidade da defesa da fé cristã e da expansão dos interesses portugueses. A Ordem de Cristo desempenhou um papel fundamental no período dos Descobrimentos, influenciando a história mundial por meio do apoio a exploradores como Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.

D. Afonso Henriques e a formação de Portugal

Post image

A continuidade da missão templária ganhou novos rumos nos mares desconhecidos. Monumento aos Descobrimentos, em Lisboa (Foto: Adobe Stock)

1. Independência de Portugal
– D. Afonso Henriques, nascido em 1109 e falecido em 1185, é amplamente reconhecido como o fundador e primeiro rei de Portugal. Em 1139, após a vitória na Batalha de Ourique, autoproclamou-se rei de Portugal. Em 1143, com o Tratado de Zamora, assegurou a independência de Portugal do Reino de Leão, sendo reconhecido como rei por Afonso VII de Leão e Castela.

2. Reconquista cristã
– D. Afonso Henriques continuou a expansão territorial de Portugal, conquistando territórios ao sul, incluindo Santarém e Lisboa. Seu apoio aos Templários e a outras ordens militares foi crucial para essas conquistas.

D. Afonso Henriques teve um papel fundamental na formação de Portugal e na relação com os Templários, cuja influência perdurou através da Ordem de Cristo. A dissolução dos Templários e a fundação da Ordem de Cristo foram eventos cruciais na história medieval, influenciando a defesa da fé cristã e a expansão marítima portuguesa. A história de D. Afonso Henriques e das ordens militares reflete a complexidade e a riqueza do período medieval, deixando um legado duradouro na formação da identidade e na expansão de Portugal.