Cultura

D. Manuel I, o Venturoso: o rei que levou Portugal ao auge dos Descobrimentos

10/27/2025

Article banner

Retrato de D. Manuel I, o Venturoso (1469–1521), rei de Portugal entre 1495 e 1521 (Foto: Wikimedia Commons)

X logo

Entre conquistas marítimas, expansão comercial e esplendor artístico, o reinado de D. Manuel I marcou o ponto alto da influência portuguesa no mundo e deixou um legado que ainda ecoa na história

Dom Manuel I, conhecido como “O Venturoso”, foi um dos monarcas mais importantes da história de Portugal. Nascido em 31 de maio de 1469, em Alcochete, D. Manuel ascendeu ao trono em 1495, após a morte de seu primo, D. João II, que faleceu sem deixar herdeiros legítimos. Seu reinado, que se estendeu até 1521, representou o auge da Era dos Descobrimentos Portugueses, período em que Portugal consolidou sua posição como potência marítima, econômica e cultural. O título “O Venturoso” se deve às muitas conquistas e sucessos obtidos durante o seu governo, incluindo descobertas de novas terras, o estabelecimento de rotas comerciais e um crescimento econômico sem precedentes.

Ascensão ao trono e contexto histórico

Dom Manuel I era filho do Infante Dom Fernando, duque de Viseu, e de D. Beatriz de Portugal, pertencendo a um ramo secundário da Dinastia de Avis. Sua ascensão ao trono foi um tanto inesperada, pois ele não era inicialmente o herdeiro direto. Após a morte do príncipe herdeiro D. Afonso, filho de D. João II, e com a ausência de outros herdeiros legítimos, Dom Manuel foi escolhido como sucessor. Sua coroação marcou o início de um período de prosperidade para Portugal, que havia sido cuidadosamente preparado por D. João II, considerado o “Príncipe Perfeito”.

Expansão marítima e descobrimentos

Post image

Caravela portuguesa, símbolo das grandes navegações e da expansão ultramarina (Foto: Wikimedia Commons)

Durante o reinado de D. Manuel I, Portugal consolidou e expandiu as conquistas marítimas iniciadas no governo anterior. Com investimentos contínuos e o patrocínio das navegações, as explorações alcançaram territórios distantes e estabeleceram a supremacia portuguesa no comércio global.

A rota para a Índia

Uma das maiores realizações de seu reinado foi a expedição de Vasco da Gama, que em 1498 descobriu o caminho marítimo para a Índia, chegando a Calicute. Essa rota permitiu que Portugal monopolizasse o comércio de especiarias — como pimenta, canela e cravo — diretamente da fonte, sem depender das rotas terrestres controladas por intermediários árabes e italianos. Essa conquista revolucionou a economia portuguesa e trouxe imensa riqueza ao reino.

A descoberta do Brasil

Em 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, a frota portuguesa chegou ao litoral do Brasil, território que foi oficialmente incorporado à Coroa portuguesa. Essa descoberta foi fruto de uma combinação de exploração planejada e acaso, ampliando significativamente os domínios ultramarinos do reino.

Expansão no Oriente e na África

Sob a liderança de navegadores como Afonso de Albuquerque, Portugal estabeleceu posições estratégicas no Oriente Médio e na Ásia. A tomada de Goa (1510), Malaca (1511) e a tentativa de controle de Ormuz fortaleceram a presença portuguesa no comércio de especiarias e na região do oceano Índico. Paralelamente, fortalezas e feitorias foram construídas ao longo da costa africana para proteger as rotas comerciais.

Explorações no Atlântico Norte

Além das descobertas no Oriente e no Brasil, Portugal explorou também o Atlântico Norte, com as viagens dos irmãos Gaspar e Miguel Corte-Real, que atingiram áreas próximas ao Canadá e à Groenlândia, ampliando o conhecimento geográfico europeu.

Reformas administrativas e legislativas

Dom Manuel I também ficou conhecido por suas contribuições à administração do reino, implementando reformas que modernizaram o governo e consolidaram o poder da Coroa.

Ordenações Manuelinas

Um dos marcos de seu reinado foi a promulgação das Ordenações Manuelinas, em 1521, um conjunto de leis que organizou e atualizou a legislação portuguesa. Essas ordenações sistematizaram o direito do reino, refletindo as novas necessidades de um império em expansão.

Centralização do poder

Dom Manuel I fortaleceu o poder real, centralizando decisões importantes e diminuindo a influência das cortes e da nobreza. Esse processo de centralização administrativa foi essencial para a gestão de um império tão vasto.

Conflitos internos e conspirações

O reinado de Dom Manuel I não foi isento de turbulências. Conspirações internas, como a trama liderada pelo duque de Viseu, colocaram à prova sua autoridade. Com determinação, ele reprimiu revoltas e assegurou que a Coroa permanecesse centralizada.

Cultura e arquitetura: o estilo manuelino

Post image

Mosteiro dos Jerónimos, uma das obras-primas do estilo Manuelino, financiado com as riquezas das navegações (Foto: Wikimedia Commons)

O reinado de Dom Manuel I também foi marcado por um grande florescimento cultural e artístico. A riqueza advinda do comércio de especiarias financiou obras monumentais que simbolizam o poder e a grandiosidade de Portugal.

O estilo arquitetônico que leva o nome do rei — o Manuelino — caracteriza-se por elementos ornamentais inspirados no mar, como cordas, esferas armilares, conchas e motivos náuticos. Exemplos notáveis incluem:

  • Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa)
  • Torre de Belém (Lisboa)
  • Convento de Cristo (Tomar)

Essas construções, ainda hoje preservadas, são símbolos da era dourada do reinado de Dom Manuel I e do espírito das Grandes Navegações.

Política religiosa e questão judaica

Embora tenha ficado conhecido por seu apoio à Igreja Católica, Dom Manuel I tomou medidas controversas em relação à comunidade judaica em Portugal.

Expulsão dos judeus
Sob pressão dos Reis Católicos da Espanha, Dom Manuel I decretou, em 1496, a expulsão dos judeus que não se convertessem ao cristianismo. Muitos acabaram forçados à conversão, formando a comunidade dos “cristãos-novos”, enquanto outros partiram para o exílio. Essa medida trouxe prejuízos culturais e econômicos, pois a comunidade judaica era altamente instruída e desempenhava papéis importantes na economia portuguesa.

O legado de Dom Manuel I

Post image

Torre de Belém, em Lisboa: ícone do estilo Manuelino e símbolo do poder marítimo português durante o reinado de D. Manuel I (Foto: Wikimedia Commons)

Dom Manuel I faleceu em 13 de dezembro de 1521, deixando um legado de conquistas e realizações que marcaram profundamente a história de Portugal.

  • Expansão marítima e comercial: seu reinado consolidou o domínio português nos mares, criando um império global.
  • Crescimento econômico: o comércio de especiarias e outros produtos exóticos trouxe imensa riqueza ao reino.
  • Patrimônio cultural: o estilo Manuelino e as grandes construções arquitetônicas são um testemunho duradouro de seu reinado.

Apesar das críticas à sua política religiosa, D. Manuel I foi um monarca que soube aproveitar as oportunidades herdadas de D. João II, levando Portugal ao auge de sua influência global.

Dom Manuel I foi um rei profundamente influente, cujo reinado representou a culminação de um projeto expansionista português iniciado no século anterior. Suas políticas, decisões e patrocínios moldaram o futuro do país e consolidaram o auge do Império Português. Contudo, seu governo também trouxe desafios e contradições, como a expulsão dos judeus. Seu legado, no entanto, permanece inegável: ele é, sem dúvidas, um dos maiores monarcas da história de Portugal.