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Felicidade no trabalho é a nova moeda das empresas. E quando você é a dona da empresa, como lidera esse desafio?

Por
Luciana Mitri

7/21/2025

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Nos pequenos negócios, o bem-estar no trabalho depende diretamente de quem está no comando (Foto: Envato)

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Felicidade no trabalho vai além de benefícios: exige estrutura, intenção e líderes dispostos a praticar o que pregam

Felicidade no trabalho não é discurso. É prática.

Falar sobre felicidade no trabalho nunca esteve tão na moda.
Está em todo lugar.

Nos posts do LinkedIn, nos eventos de RH, nas conversas sobre o “futuro do trabalho” e, claro… nas legendas inspiradoras que prometem transformar qualquer ambiente profissional num lugar leve, criativo e cheio de propósito.

E, olha… faz todo sentido que esse tema esteja em alta.
O mundo está mudando. As relações de trabalho estão mudando. As expectativas também.

Mas tem uma pergunta — uma daquelas que quase ninguém faz — que fica ali, meio escondida, de canto.
Uma pergunta que faz toda a diferença, principalmente quando você não é só funcionária.

Quando você é a dona do negócio.
Quando é você quem assina o cheque.
Quem abre e fecha a porta.
Quem carrega o CNPJ nas costas.
Quem não tem um RH inteiro pra cuidar do clima, nem uma consultoria de cultura organizacional pra resolver os ruídos do dia a dia.

Aí… como é que faz?

O cenário não mente

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Segurança psicológica, pertencimento e autonomia: pilares de uma cultura organizacional saudável (Foto: Envato)

O dado é duro.
A Gallup, aquela que faz um dos maiores estudos sobre trabalho no mundo, soltou um relatório que diz o seguinte:

77% das pessoas no planeta estão desengajadas no trabalho.

Setenta e sete.
Sete. Sete.

E, se você achou que esse problema mora só nas grandes empresas, se enganou.
Ele vive, e muito, dentro dos pequenos negócios, das médias empresas, dos negócios que a gente constrói com suor, resiliência e, muitas vezes, com mais amor do que capital.

Aliás, arrisco dizer — e isso aqui é opinião pessoal, mas baseada na observação da vida real — que esse problema talvez esteja até mais presente nas pequenas empresas.
Porque nelas… quase tudo depende da dona.

Só que tem um detalhe que raramente entra nessa conversa:
Enquanto o discurso grita que o trabalho precisa ser mais leve, mais humano, mais feliz…
A realidade bate na porta com outra lista de tarefas.

Meta.
Pressão.
Cliente.
Imposto.
Equipe.
E aquela sensação, que só quem empreende conhece, de que, às vezes, falta mais dona do que dia.

É uma conta que não fecha fácil.

Felicidade no trabalho não é mimo. É estrutura.

Não, não é sobre mesa de pingue-pongue no escritório.
Nem sobre pizza na sexta.
Nem sobre colocar uma frase bonita na parede dizendo que “aqui somos uma família”.

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Felicidade no trabalho não é um bônus, é parte da estrutura (Foto: Envato)

Felicidade no trabalho é outra coisa.
É construção.
É decisão.
É intenção.

E ela se apoia, basicamente, em três pilares que a ciência já não deixa mais ninguém ignorar:

  • Autonomia. As pessoas têm voz real? Ou estão só obedecendo ordens?
  • Pertencimento. Elas sentem que fazem parte de algo que vale a pena?
  • Segurança psicológica. Existe espaço pra errar, pra propor, pra discordar, pra aprender — sem medo, sem punição, sem julgamento?

Se isso não está na estrutura do seu negócio… então não adianta muito colocar plantas no escritório ou levar café na mesa.

O custo do silêncio

Ignorar essa conversa tem um preço alto.
E, geralmente, caro.

Turnover.
Desmotivação.
Absenteísmo emocional — aquele em que a pessoa até aparece, mas, na prática, não está ali.
Perda de produtividade.
E, no limite, a morte silenciosa da criatividade e da inovação.

A pesquisadora Amy Edmondson, da Harvard, fala disso há anos.
Ela explica que, quando as pessoas sentem medo — medo de falar, de propor, de errar — a inovação simplesmente não acontece.

E mais: o pesquisador Frederic Laloux, no livro Reinventando as Organizações, já avisou que as empresas do futuro não são mais aquelas que operam no velho modelo do comando-e-controle.
São aquelas que funcionam como organismos vivos.
Com autonomia.
Com propósito de verdade.
E com relações que são, no mínimo, honestas.

O espelho da liderança

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Quando a empresa é um reflexo da liderança, cada escolha impacta a cultura (Foto: Envato)

Se você é a dona, a fundadora, a CEO…
A sua empresa é, sim, um espelho de você.

A cultura que você permite, você promove.
O que você tolera, você fortalece.
E tudo aquilo que você evita conversar… uma hora vira sintoma.

Por isso, antes de perguntar se sua equipe está feliz, vale se perguntar:

Eu estou liderando uma empresa onde as pessoas querem ficar? Onde sentem que estão construindo algo que vale a pena?

Porque, no fim, tem uma verdade que nem sempre é fácil de ouvir, mas que não dá mais pra ignorar:

Sua empresa nunca vai ser melhor do que a cultura que você constrói dentro dela.

E lembra disso, por favor:
Felicidade no trabalho não é discurso. É prática.