Milão se prepara para mais uma edição de sua Fashion Week, vitrine internacional que, ao lado de Paris, Londres e Nova York, dita os rumos da moda. Em 2025, o evento ganha contornos históricos: é o primeiro após a morte de Giorgio Armani, ocorrida em 4 de setembro, e traz uma programação que mescla tributo, inovação e uma reafirmação da identidade cultural italiana.
Giorgio Armani não foi apenas um estilista. Criou um vocabulário estético que combinava sobriedade e elegância, influenciando não apenas a moda, mas também o cinema, a política e o cotidiano de milhões de pessoas. Seus desfiles de primavera/verão 2026 (Emporio Armani e Giorgio Armani), preparados antes de sua morte, carregam agora o peso da despedida. Paralelamente, uma retrospectiva na Pinacoteca di Brera exibirá 150 looks emblemáticos, colocando sua obra em diálogo com a arte italiana e reforçando a dimensão cultural de sua contribuição.

Pinacoteca di Brera, palco da retrospectiva dedicada a Giorgio Armani (Foto: Canva)
O futuro da marca Armani passa a ser acompanhado de perto pelo mercado. O testamento deixou instruções sobre a venda de uma participação minoritária e sobre o papel da fundação que leva seu nome. O processo vai além das finanças: trata-se de preservar uma identidade estética que moldou Milão por décadas e que agora precisa encontrar novas formas de continuidade.
A cena da SS26
Com 55 desfiles presenciais e quatro digitais, a Milan Fashion Week confirma sua vitalidade. Entre os destaques, a estreia de Demna na Gucci, a nova direção de Simone Bellotti na Jil Sander e a apresentação de Louise Trotter na Bottega Veneta. Marcas históricas como Prada, Versace e Dolce & Gabbana seguem firmando códigos próprios que, ao invés de romper, refinam tradições italianas.
Se as grandes casas reforçam sua herança, jovens marcas avançam em direção à inovação. Tecidos de seda reciclada, fibras de laranja e materiais derivados da uva ganham espaço nas coleções. Em um país cuja moda nasceu do encontro entre artesanato regional e excelência técnica, essa busca por soluções sustentáveis representa continuidade e atualização ao mesmo tempo.
Milão como palco vivo

O Duomo de Milão, símbolo da cidade que se transforma durante a Fashion Week (Foto: Envato)
A Semana de Moda extrapola as passarelas e transforma a cidade. Hotéis lotados, restaurantes estendendo horários, museus e galerias inaugurando exposições para coincidir com os desfiles: tudo converge para o espetáculo. Espaços industriais de bairros como Bovisa e Lambrate passam a sediar desfiles, lembrando a trajetória de Milão como cidade que sempre se reinventou.
Mais do que roupas, Milão apresenta ao mundo uma narrativa sobre a Itália. É um estilo de vida em que a elegância é prática, a inovação respeita a memória e a moda atua como diplomacia cultural. Nesta edição, o tributo a Armani se entrelaça à afirmação de novos nomes e ideias, mostrando que a moda italiana continua sendo ponte entre tradição e futuro.