Comportamento

Psicologia não é frescura: é ferramenta de liberdade

Por
Marta Castro Luzbel

7/22/2025

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O autoconhecimento é o primeiro passo para romper ciclos e reconquistar a autonomia emocional (Foto: Adobe Stock)

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Entre hormônios, heranças e preconceitos, o caminho do autoconhecimento pode ser a chave para quebrar ciclos e evitar adoecer

Numa das primeiras aulas do curso de Psicologia, fomos apresentados a Freud e à psicanálise. Me chamou a atenção quando o professor falava das histéricas. Nosso vocabulário geralmente generaliza no masculino, mas naquela aula não se falava dos histéricos. Não resisti e perguntei. O professor explicou que, na época, se pensava que a doença acometia apenas as mulheres, que eram a grande maioria dos pacientes. Hoje se sabe que acomete também os homens.

Ainda intrigada, perguntei por que as mulheres eram quase a totalidade dos casos. E ele me explicou que era por conta da repressão que sofriam.

De Freud para cá (final do século XIX, início do século XX), muita coisa mudou. A mulher ganhou espaço, passou a votar, a trabalhar fora de casa. A psicologia e a psiquiatria avançaram, classificaram novas doenças e tratamentos. Mas tem algo que não mudou: a repressão feminina — hoje travestida, disfarçada — e seus impactos na saúde emocional das mulheres.

Pesquisas mostram que a ansiedade, a depressão e os transtornos do sono e alimentares acometem duas mulheres para cada homem. Na raiz do problema: repressão sexual, submissão, dependência econômica, jornadas longas e repetitivas de trabalho, dificuldade para conciliar vida pessoal (em especial os cuidados com a casa e os filhos) e profissional, falta de tempo e recursos para lazer, descanso e autocuidado.

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Entre jornadas duplas e múltiplas pressões, o trabalho feminino ainda carrega marcas de desigualdade e sobrecarga emocional (Foto:Adobe Stock)

Hoje, quando alguém me pede um conselho, eu digo: vá cuidar da sua cabeça, do seu coração, da sua alma. Ainda que as mulheres liderem a procura por apoio psicológico ou terapias alternativas, muitas ainda não priorizam isso. Acham que não precisam, que dão conta. Na minha opinião, muitas preferem dedicar o pouco tempo e dinheiro que têm ao salão ou às compras — e só vão pedir ajuda quando a situação já está muito séria.

Talvez porque ainda exista muito preconceito e desinformação em relação ao cuidado com a saúde mental. Vale lembrar que a psicologia surge da filosofia, como um processo de autoconhecimento e autodesenvolvimento, e só depois passou a ser associada aos transtornos, especialmente no período do pós-guerra. Ou seja, não precisamos estar doentes para buscar apoio. Podemos ter ajuda de um profissional para nos fortalecer, assumir o controle de nossas vidas e, acima de tudo, evitar adoecer.

Falo da psicologia, mas o cuidado com a saúde mental envolve outros fatores. Como, por exemplo: fazer exercício para produzir endorfina, meditar para liberar dopamina e serotonina, namorar ou sair com as amigas para dar boas risadas e produzir ocitocina. Todos esses nomes estranhos são hormônios de prazer e felicidade.

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Afeto também é cuidado: relações saudáveis ajudam a liberar hormônios de bem-estar e fortalecem a saúde emocional (Foto: Adobe Stock)

O autoconhecimento nos leva a caminhos muito mais profundos. Às vezes estamos reclamando de uma relação tóxica, de um trabalho injusto, da falta de tempo e dinheiro, de uma série de coisas... mas nos sabotamos e nos mantemos nesse ciclo vicioso. Não vamos encontrar a solução em artigos como este ou em livros de autoajuda se não estivermos dispostas a mergulhar de cabeça em nós mesmas e encarar nossos fantasmas — desta existência e do nosso campo morfogenético. Porque, sim, trazemos uma memória genética das nossas mães, avós, bisavós. De muitas mulheres que sofreram no passado para que pudéssemos ser o que somos hoje.

Amigas, tudo isso ainda se agrava com as alarmantes notícias e estatísticas sobre feminicídio e outras formas de violência contra as mulheres. Mais do que nunca, precisamos nos cuidar. E a cura está dentro de nós, não fora. E ela não vem como um passe de mágica. Ela é construída com prevenção, tratamento e manutenção. Com amor-próprio e autocuidado.

Fica a dica.