Enquanto boa parte do mundo celebra o amor em 14 de fevereiro, embalado por cartões com corações vermelhos e referências a São Valentim, o Brasil guarda uma peculiaridade pouco conhecida: o Dia dos Namorados aqui não tem origem religiosa. A data, comemorada em 12 de junho, nasceu de uma ideia publicitária, misturou-se à devoção popular por Santo Antônio e transformou-se, ao longo das décadas, em um dos momentos mais comerciais do nosso calendário.
A história começa em 1949, quando o publicitário João Doria (pai do ex-governador de São Paulo) foi contratado por uma loja que precisava impulsionar as vendas de junho, tradicionalmente um mês fraco para o comércio. Inspirado pelo Valentine’s Day e pelas festas juninas, Doria escolheu a véspera do dia de Santo Antônio, celebrado em 13 de junho, para lançar a campanha “Não é só com beijos que se prova o amor”. A ideia era clara: transformar o amor em motivo de consumo. E funcionou.

No Brasil, a devoção a Santo Antônio foi incorporada à data como símbolo do desejo por um amor duradouro (Foto: Shutterstock)
Santo Antônio, por sua vez, já era chamado de “santo casamenteiro” no imaginário popular brasileiro. De origem portuguesa, o frade franciscano ganhou essa fama por conta dos relatos de milagres envolvendo casamentos e reconciliações amorosas. Com o tempo, a devoção ao santo se misturou à data comercial e os rituais para arrumar namorado ganharam espaço ao lado dos corações de pelúcia nas vitrines.
Longe de ser apenas mais uma adaptação tropicalizada de uma tradição europeia, o Dia dos Namorados brasileiro é um reflexo da nossa criatividade cultural: uma data criada pela publicidade, abençoada pelo sincretismo popular e consolidada pelo afeto. Entre o marketing e a devoção, o que permanece é o desejo de celebrar o amor.

Entre o marketing e a fé, o que permanece é o desejo de celebrar o amor — à sua própria maneira (Foto: Canva)
Hoje, talvez valha mais perguntar o que realmente se comemora no Dia dos Namorados: o romance, o desejo, o consumo, a companhia ou a esperança. E como quase tudo no Brasil, a resposta pode ser “todas as anteriores”.