Depois do felizes para sempre, espera-se que os filhos sejam o ápice do desenho da família do comercial de margarina. E assim foi comigo. Casei, tive filho, adotei cachorro, segui o script bem bonitinho. O tempo foi passando e o que eu não vivi da “fórmula de sucesso de um casamento” são viagens só com meu marido depois que meu filho nasceu, em 2012. Sim, acredite. Levei 12, quase 13 anos, pra conseguir realizar esse movimento.
Sou mãe em tempo integral, empresária, terapeuta, tenho rede de suporte, que eu carinhosamente chamo de côrte, afinal sou a rainha do meu reino, mas não tenho babá nem funcionária na minha casa diariamente. Mas o babado não é sobre isso. Calma que eu chego lá.
Recentemente, passei 20 dias viajando pela Europa com meu marido. Foram duas primeiras vezes em uma viagem só: a primeira dele conhecendo o velho continente e a nossa primeira viagem sem nosso filho. Foi uma reconexão em diversos pontos, mas vou me ater a dois pra essa coluna.
O primeiro foi uma reconexão do casal. Revivemos quem éramos antes do filho, mesmo que ele estivesse sempre presente no nosso cenário imaginário de “Gustavo ia adorar ver isso” ou “ainda vamos voltar aqui com o Gustavo”. Vivemos o casal antes de sermos pai e mãe de alguém. E por mais que a gente tenha momentos a dois em Brasília, onde moramos atualmente, nada se equipara a uma viagem. Fora a liberdade de andar o dia todo, média de 20 mil passos por dia, passar horas em museus ouvindo e internalizando cada detalhe das milhares de peças, quadros e galerias que visitamos, enquanto víamos crianças fazendo birra e adolescentes de cara feia por estarem cansados de estarem há tanto tempo ali. Até na hora de fazer uma foto, aquelas que vão parar em quadros pela casa depois, a nossa leveza era nítida.

Um reencontro a dois em Paris. Liberdade, leveza e a sensação de voltar a ser apenas “nós” (Foto: Arquivo pessoal / Jeni Sandzer
Não levar o Gustavo nessa viagem foi uma escolha debatida por meses. Meu marido queria levar e eu não. Porque já sabia o que ia encontrar. E, no fim, foi a melhor escolha que fizemos. De fato, se distanciar tantos quilômetros, por tantos dias, demandou que a gente se organizasse em vários aspectos. Foi importante para todos nós, como família, esse movimento.
Meu filho ficou uns dias com a minha mãe e outros com meu sogro, que veio de Curitiba pra ficar com ele. Mesmo assim, ele teve que ser mais independente: preparar seu café da manhã e algo pra comer à noite, lavar a roupa do uniforme, cuidar da comida e água dos cachorros e vigiar sua rotina com banho, escovar os dentes, horário de dormir, acordar, etc. Eu orientei que fosse assim, pra que ele pudesse também ter a oportunidade de amadurecer mais e perceber que a vida real merece um olhar mais atento aos detalhes, que pequenas escolhas podem ter grandes impactos no nosso bem-estar e que a vida é mais que jogar videogame. Se você é mãe de adolescente, sabe do que eu tô falando.
O segundo foi uma reconexão comigo. Minha mesmo. Com o que eu chamo de liberdade autêntica. Quando se está a tanta distância de casa, se pode falar outros idiomas com nativos, dançar na rua, experimentar diferentes gastronomias, hábitos e culturas. Eu me dei a oportunidade de baixar as barreiras sociais, que me julgam inadequada ou adequada, e isso me traz leveza de viver, me faz ser uma mulher feliz. Sempre que viajo tenho essa sensação, e você?

Viagens que ampliam o olhar e reacendem a energia de estar viva, inteira, em movimento (Foto: Arquivo pessoal / Jeni Sandzer)
Eu continuo sendo a mãe do Gustavo, a mulher do Carlos, a tutora do Bob e da Marley, mas antes de todos eles, eu sou a Jenifer. E ela precisa ser honrada antes de qualquer outro. Porque sem ela, minha vida não acontece.
Voltei da viagem com alguns souvenirs que não vendem em nenhuma loja: testemunhei meu marido descobrindo lugares e experiências novas, uma expansão energética surreal, botão do fod*-se ligado pra muita coisa que eu me sabotava antes e a consciência de uma outra linguagem de amor, viagens.
Deixo pra você a provocação: quando foi a última vez que você se sentiu assim?


