O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado. Em apenas seis anos, a população acima dos 60 anos cresceu 26%, chegando a 30 milhões de pessoas, segundo o IBGE. A expansão da longevidade é uma conquista, mas também um desafio: cada vez mais famílias precisam de profissionais qualificados para garantir o bem-estar de seus idosos. E, na maioria dos casos, essa responsabilidade recai sobre uma categoria ainda invisível: os cuidadores.

Gesto de afeto e confiança entre cuidadora e idoso: vínculo essencial no envelhecimento com dignidade (Foto: Envato)
Entre 2020 e 2021, um levantamento nacional com 2.568 cuidadores formais traçou um retrato inédito desse grupo. A pesquisa mostra que 92% são mulheres, em geral com idades entre 36 e 55 anos e ensino médio completo. Quase metade é chefe de família e 88% têm filhos. Apesar da relevância social do trabalho, grande parte dessas profissionais atua sem o amparo de uma legislação específica ou de formação contínua adequada.
A função exige habilidades complexas, que vão muito além da assistência básica. Entre as tarefas mais desafiadoras estão a movimentação de pacientes acamados, o controle de medicamentos e o acompanhamento de doenças crônicas. O estudo aponta que 84% das cuidadoras têm dificuldade com a locomoção de idosos e que 67% já cuidaram de pessoas com hipertensão, 40% com Alzheimer ou sequelas de AVC. Ainda assim, 89% sabem aferir pressão arterial e mais de 70% dominam o controle de temperatura e outros sinais vitais.

A movimentação de pacientes é uma das tarefas mais desafiadoras no cuidado de idosos, apontam os dados da pesquisa (Foto: Envato)
Apesar das exigências físicas e emocionais, o cuidado é também um campo de esperança. A maioria das profissionais enxerga na atividade uma forma de ascensão e propósito. Entre seus maiores sonhos estão ter casa própria, viajar, pagar dívidas e cursar uma faculdade, desejos simples, mas que traduzem a busca por dignidade em uma profissão que ainda carece de reconhecimento.
Realizado com base em dados coletados pela MasterCare, empresa que atua em pesquisa e capacitação na área de cuidado domiciliar, o levantamento reforça a urgência de políticas públicas voltadas à formação e valorização desses trabalhadores. Cuidar, afinal, é mais do que uma função: é um ato de sustentar a vida - e o país que envelhece precisa, antes de tudo, cuidar de quem cuida.


