“Precisamos de um líder que promova transformações.” A frase, cada vez mais comum entre conselhos e CEOs, reflete uma consciência importante: a de que o mundo dos negócios mudou e liderar nesse novo contexto exige outras formas de pensar, gerir e entregar valor. Mas, na prática, as empresas estão mesmo dispostas a mudar?
Para Rodrigo Forte, fundador da EXEC, consultoria especializada na seleção de executivos e no desenvolvimento de lideranças, há um descompasso entre o desejo de transformação e a realidade corporativa. “As organizações continuam operando com as mesmas estruturas, métricas e culturas de sempre. Essa contradição é o que chamo de paradoxo da transformação. E ele é mais comum do que se imagina”, diz.

Apesar de valorizarem a capacidade de liderar mudanças, poucas empresas se consideram preparadas para transformações profundas (Foto: Pexels)
Os dados confirmam. Um levantamento global da AESC (Association of Executive Search and Leadership Consultants), com mais de 1.700 executivos de 71 países, apontou que a competência mais valorizada atualmente é a capacidade de liderar mudanças. Ainda assim, apenas 45% das empresas se consideram preparadas para conduzir transformações com consistência. Ou seja, embora reconheçam o desafio, poucas criaram as condições reais para enfrentá-lo.
A cultura organizacional é um dos pontos críticos. Muitas empresas dizem valorizar inovação e talento, mas mantêm práticas que desencorajam o risco e punem o erro. “Vemos líderes com perfil transformador sendo colocados em ambientes que privilegiam previsibilidade e manutenção. A transformação não trava por falta de liderança, mas pela ausência de ambiente”, afirma.
Nesse cenário, o papel dos conselhos e da alta liderança é central. É preciso abrir espaço para a dissonância, recompensar o movimento e ter clareza institucional. É hora de perguntar: estamos preparados para sermos desafiados? Queremos, de fato, mudar ou só manter uma narrativa de mudança?

Sem coerência entre discurso e prática, lideranças inovadoras enfrentam barreiras culturais que bloqueiam o avanço das organizações (Foto: Adobe Stock)
Contratar o líder certo é só o começo. Sustentar a transformação exige estratégia, confiança e, principalmente, coerência entre o que se espera e o que se permite. “Não se trata apenas de encontrar líderes que desafiem o status quo, mas de garantir que o sistema os acolha, em vez de sufocá-los”, diz.
Na era da aceleração, talvez a pergunta mais importante não seja “quem vai nos liderar?”, mas sim “o que estamos dispostos a mudar para que a liderança aconteça?”.